quarta-feira, 5 de maio de 2010

“Causos” pitorescos de Porto Velho

Depois de uma conversa com amigos, principalmente com o Professor Marto, resolvi continuar a comentar sobre minha terrinha, Porto Velho.
Agora, quero fazer de forma diferente, contando “causos” sobre algumas pessoas.
Haverá momento que declinarei do nome, para evitar desentendimentos ou entendimentos não tão bons assim. Meu amigo Anizinho que o diga.
Vou iniciar contando um “causo” muito falado nas rodas de amigos, quando estou tomando uma cervejinha. Sempre pedem para eu contar da vez que minha mãe, Dona Maturina, brigou com o comandante da 3ª Companhia de Fronteira.
Em meados de não sei quando, meu pai, seu Orlando era Cabo do Exército brasileiro e servia na 3ª Companhia de Fronteira, hoje 17ª Brigada de Infantaria de Selva – se é que não mudou o nome por esses dias, já que muitas vezes mudou.
Dona Maturina todo dia ia buscar seu Orlando no final do trabalho, pois morávamos em uma casa grande, de madeira, na confluência das ruas Campos Sales e D. Pedro II, hoje funciona um Cartório naquele lugar. Pra situar melhor, em frente ao Hotel Samaúma.
Grávida, com a barriga “no pé da guela” – raramente ela não estava grávida – no dito dia, foi buscar papai no quartel e ele disse que não poderia sair pois iria dobrar o serviço[1] já que o outro cabo iria fazer uma festa na sua casa e o comandante já tinha ido embora do quartel.
Minha mão não diz nada e vai até a esquina do quartel, onde residia o comandante e vê o referido sentado em uma cadeira de balanço, só de calção.
Para na frente do coitado, pondo as mãos na cintura – se é que com a barriga no “pé da guela” ainda tivesse cintura e diz:
_ Bonito! Um fazendo desta em casa... o outro de embalando na cadeira e meu marido dobrando o plantão.
Dito isso, vai embora.
Como sempre fazia todo final de tarde após ir buscar papai no quartel, passou na Catedral, entrou, fez o Sinal da Cruz, rezou um pouco e foi embora.
Como nossa casa ficava a pelo menos quatro quadras da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, não demorou muito a chegar.
Da esquina ela vê seu Orlando sentado no batente da porta. Cabisbaixo.
Ela, com a educação que Deus lhe deu, perguntou:
_Que foi Orlando? Já em casa? Não ias dobrar o plantão?
Então ele, como sempre um Lorde, falou:
_Não sei Maturina. Fostes embora e logo depois chegou o Comandante e disse:
_Orlando, vai pra casa que eu vou tirar o teu plantão. Não entendi nada Maturina, mas como ele insistiu, vim embora.
[1] - Permanecer no serviço, trabalhando mais um turno para cobrir alguma lacuna.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

As meninas das sandálias de vidro

Passeando por terras de Morfeu, deparei-me com um lugar sombrio, onde mulhers desfilavam de várias formas, umas totalmente vestidas, outras com poucas roupas e algumas simplesmente nuas.
O corpo pouco valendo. Com alguns reais poderia ter qualquer uma delas.
Desfilando em um palco improvisado, desnudando-se em cima de uma mesa ou simplesmente levando-a para um dos quartos pequenos e fétidos disponíveis no local.
Vejo meninas que a pouco eram crianças que brincavam com suas bonecas e hoje se expõem para um monte de pessoas aplaudindo, vaiando ou apenas indiferentes.
Alguns estão ali apenas para passar o tempo, tomar uma bebida, jogar mágoas fora ou ganhar parcos trocados.
Fico curioso com uma cena repetida. Toda vez que uma ia ao palco, com suas minúsculas roupas para se despirem ao som de uma música estridente, há a repetição de sandália.
Vejo que, com raríssimas exceções, elas utilizam do mesmo par de sandálias.
A curiosidade me faz pensar o motivo e aquilo fica martelando em minha cabeça.
Não resistindo a minha curiosidade fui perguntando e não tendo resposta.
Como o Pequeno Príncipe, que jamais renuncia a uma pergunta, teimei até conseguir a resposta: Para parecerem mais bonitas, como uma mercadoria exposta em uma vitrine, elas compram juntas apenas um par de sandálias, simples porém bonito.
Com o pouco dinheiro que ganhavam pela exposição de seus corpos, puderam comprar apenas um par. Um par de sandálias de vidro.
Simples...
Frágil...
De vidro...
Que, a qualquer momento poderia quebrar...
Como quebrará os sonhos e a vida de cada uma delas.