Não importava se baralho, dominó, dama, xadrez ou simplesmente porrinha.
Quando se falava do jogo do bicho, era um deus-nos-acuda.
Esse é que viciava mesmo.
Se alguém tocasse no nome “jogo”, era visto como marginal, viciado ou delinquente.
Só podia jogar se fosse bingo com objetivo de angariar fundos para igrejas ou para ajudar alguém que necessitava de um tratamento médico ou para fazer a cotinha do caixão de um de cujos qualquer.
Joguei algumas vezes no bingo do arraial da Catedral.
Por vezes, um bingo no arraial do seu Passinho também era aceito, embora somente algumas vezes.
De lá pra cá, passei a ver o jogo como algo perigoso.
Algo que vicia.
Algo muito ruim.
Nunca gostei de apostar.
Hoje, já taludinho, como dizem os amigos, sou convidado a participar de alguns bolões para tentar a sorte na Mega-Sena.
Embora meio a contra gosto, pois ainda tenho na memória as palavras de meu pai, entro em alguns bolões, porém com uma dúvida cruel.
Se o jogo do bicho, caça-níquel e bingo viciam e por tal motivo são proscritos, como é que existe tanto jogo patrocinado oficialmente, sendo capitaneado pela Caixa Econômica Federal?
Tenho amigos que perderam todas as economias jogando bingo, quando eram autorizados.
Conheço amigos que sempre fazem uma fezinha nos caça-níqueis clandestinos existentes em Porto Velho.
Vejo todo dia banquetas de jogo do bicho pela cidade. Embora seja ilegal o jogo.
Qual a explicação que pode ser dada para mim – se é que existe uma explicação – de que os jogos clandestinos viciam e os jogos patrocinados pelo Governo Federal não viciam.
Tive em certa época, um pedreiro trabalhando em minha casa que toda quarta feira pedia um adiantamento para jogar na “loteca”. Se eu não tivesse dinheiro para adiantar a ele, parecia que o “homi” ficava louco, trabalhando emburrado e saindo mais cedo para ver se conseguia uns trocados para alimentar seu vício.
Perguntei certa vez desde quando ele jogava nas loterias da Caixa e se já tinha ganhado alguns trocados e tive a resposta que o referido coitado, jogava desde o lançamento e que nem um tostão ganhou.
Ainda brincou comigo, o Pedro, de que possuía um baú na sua casa, com todos os volantes das vezes que participou de jogos e que estava somente esperando que em Porto Velho tivesse uma fábrica de reciclar papel para vender e ganhar alguma coisa – me lembrou o causo de um velho bêbado que ficou rico vendendo as garrafas das pingas que tinha ingerido ao longo de sua vida.
Então, o que diferencia os jogos clandestinos – que viciam – dos jogos legais, feitos pela Caixa Econômica Federal – que não viciam – é sua legalidade?
Se for então o problema, vamos legalizar os demais e deixar com a idéia hipócrita que vemos nos dias de hoje em que periodicamente é estourada uma casa de jogos clandestinos ou uma central do jogo do bicho.
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