quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dia das crianças

Dizem que em um país muito distante, mas muito... muito distante, um jovem velho saiu no dia das crianças, com um presente, para entregar à criança mais amável, bondosa, carinhosa, dedicada, especial, formidável, gostosa, hilária, inimaginável, jovial, linda, maravilhosa, natural, ótima, perceptiva, querida, recatada, saudável, tenaz, única, viva, xavequeira, yang e, de quando em vez,  zangadinha.
Andou desde o raiar do sol até o astro rei se por quando chegou a uma casa e vê uma criança brincando.
No início, não recebeu o jovem velho nenhuma atenção da criança.
De posse da paciência peculiar de um velho ancião, esperou um bom tempo até receber a atenção da criança que lhe deu um beijo e um abraço.
Do alto de sua sapiência, o jovem velho percebeu que aquela criança era a especial e que merecia o presente.
Entregou-lhe o pacote e a criança tentando abrir para ver o que tinha recebido do velho, com sua pouca força, buscava rasgar o pacote.
Com a ajuda do velho, conseguiu seu intento.
Abre seu presente, o admira e diz que gostou.
Que achou lindo.
Pega o brinquedo, e deixa em cima de uma pequena mesa.
Sai correndo em uma linda disparada e some.
Demora, fala com sigo mesmo e depois com um jeito maroto, porém angelical, volta e pergunta ao velho:
_ Adivinha o que tenho na mão?
E o velho, de forma marota responde:
_ Um elefante.
Não. Tenta de novo tio.
_ Uma girafa, brinca novamente o velho.
Não. Fala outra coisa tio.
O velho, já pensando na seriedade da pergunta responde.
_ Não sei, meu filho, o que é?
Do alto de seus quatro ou cinco anos, a criança lhe diz:
_ Tio, põe o presente que você me deu no chão o que é prontamente feito pelo velho.
De forma inusitada e angelical, a criança corre em direção do velho e o abraça com o carinho que somente uma criança sabe demonstrar.
Pego de surpresa, o velho não esperando a linda reação da criança, fica inerte e do canto de seus olhos, umas lágrimas teimosas insistem em aparecer no palco de seu rosto.
De forma inesperada a criança consegue fazer aquele rosto já maltratado pelo tempo exprimir uma bela visão do céu.
O espetáculo foi assistido apenas e tão somente pela natureza ao redor.
Foi um espetáculo partindo e uma ópera a uma tragédia, passando por um circo mambembe.
Esse lugar tão, tão distante é o Brasil.
O espaço é Rondônia e o cantinho é Porto Velho.
O jovem velho sou eu e a criança é você.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

As lojinhas do Mercado Cultural

Sou fã das noites no mercado cultural.
Raramente não passo por lá, quer seja quina, quer seja na sexta-feira.
O que vemos é um grupo de músicos de categoria, abnegados pelo que fazem, transmitindo a mais fina musica brasileira – e em alguns casos, uma músicas lá das bandas do Tio Sam.
Ouço o tempo todo, algum cantor pedir para que alguém compre uma ficha no Bar do Zizi, para ajudar quem está cantando ou tocando, como forma de “couvert artístico”[1].
É uma pena, parece que estão mendigando uns trocados.
Músicos de qualidade, que estão dando um duro danado, mostrando seu trabalho e sem uma remuneração.
Vejo que o consumo de bebidas é alto, principalmente de cerveja compradas no barzinho do mercado ou em ambulantes, com suas “caixas de gelo” apinhadas de latinhas.
Será que parte do lucro não dá para pagar um “couverzinho” para os músicos?
E mais...
Vejo que praticamente todas as lojas que foram construídas estão abandonadas ou servindo apenas de depósito de tranqueira.
Quando é que as pessoas que conseguiram a concessão para explorar tais biroscas vão iniciar suas atividades?
De quem são as citadas lojas?
Quem é o responsável por tudo isso?
São perguntas que não somente eu faço e sim, todos que vão ao mercado cultural para saborear uma boa música e encantar velhos amigos.
Não está na hora da Prefeitura Municipal de Porto Velho ou a Fundação Iaripuna entrar em cena e acabar com a verdadeira palhaçada que está ocorrendo por lá, visto que os detentores das concessões simplesmente não fazem nada.
Se não possuem capital para iniciar o negócio ou não querem mais toca-lo, poderiam passar para quem tem interesse no local.
Tenho certeza que se todas as lojas estivessem a pleno vapor, cada músico que se apresentasse teria um pouco de “jabá” e poderia cantar sem ter que, a todo o momento, pedir uns trocados.
Vejo que ninguém se importa com as lojas fechadas.
Nem o Poder Público, nem os detentores das concessões nem o público que aparece por lá.
Estão iguais a menino birrento: não pega seus brinquedos pra nada, mas se chegar outra criança e for pegá-lo o choro ta garantido.
“Qualémeuirmão”!
Ou c... ou desocupem a moita.

Em tempo: Uma limpadela nos banheiros, com papel higiênico, pelo menos no que serve às mulheres caia bem.


[1] - Couvert artístico é a taxa pré-estabelecida que o cliente paga pela música ao vivo e que é repassada integral ou parcialmente ao músico, dependendo do acordo feito com o dono do bar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Imaginem uma pessoa que, quando pequeno...

Tinha como divertimento, apostar corrida com trator (bodinho)...
Quando queria chorar, bastava apertar os olhos...
Achava que era adotado...
Em uma cidade como Porto Velho, que era apenas o quadrilátero Rio Madeira, Sete de Setembro, Joaquim Nabuco e Pinheiro Machado, com poucos veículos, conseguir ser atropelado por uma bicicleta...
Por ser gordinho, nas festas juninas, servia apenas de rebolo nas apresentações de boi bumba...
Quando duas irmãs voltavam da aula no Maria Auxiliadora e diziam que as freiras tinham mandado lembranças, chorava dizendo que queria a lembrança pois elas tinham comido tudo no caminho...
Achava o máximo, ficar na Praça Aluízio Ferreira, para pegar o vento quando os pequenos aviões estavam decolando do “Campo de Aviação”...
Corria na praça para pisar na sombra dos aviões que estavam para pousar no Aeroclube do Caiari...
Na mesa do almoço, subia no banco para “crescer” e tentar dar na cara do irmão mais velho...
Pegava cajarana para dar de presente para as meninas do bairro e tentar conseguir “alguma coisa”...
Para economizar o dinheiro da matinê, marcava com a colega já dentro do Cine Lacerda...
Foi pego várias vezes, com a sacola pronta para fugir com os circos que passavam em Porto Velho...
Não tinha calça com bolsos e mesmo assim, distribuía charme, pondo as mãos nos bolsos da camisa (que imagem ridícula)...
Vendia garrafas para poder assistir aos Jogos do JOER...
Dividia com as amigas Dora, Rosa e Célia, quando das missas do domingo na Catedral, um picolé é um saco de pipocas...
Levantou da mesa do café da manhã, com oito anos de idade dizendo que ia trabalhar, pois nunca mais tomaria café sem manteiga...
Que, para não ser mordido pelo cachorro do Seu Chico Santos, o cabeção, deu o maior salto em altura de sua vida, pulou um metro...
Saiu para vender picolé no campo da 3ª Companhia de Fronteira, e não vendeu nenhum, chupou todos vendo um jogo de futebol...
Ajudava o pai a fazer vassoura de cipó titica, ganhava meia dúzia de presente e saia pela cidade para vendê-las e poder comprar seu material escolar...
Que capinou o quintal de Dona Lourdes, secretária do Colégio Castelo Branco, em troca de sua matrícula escolar...

Esse cara é Orlando Pereira da Silva Júnior que teve tudo para dar errado e hoje é um trabalhador, pai de família, irmão e amigo (assim dizem os mais íntimos).
Poderia ter enveredado por caminhos tortuosos e não o fez.
Esse cara está completando 52 anos muito bem vividos e hoje, quando conta as suas peripécias aos amigos é motivo de aplausos e afagos.
Esse cara sou eu.

Vicio

Desde minha infância que ouvia meu pai dizer que jogo viciava.
Não importava se baralho, dominó, dama, xadrez ou simplesmente porrinha.
Quando se falava do jogo do bicho, era um deus-nos-acuda.
Esse é que viciava mesmo.
Se alguém tocasse no nome “jogo”, era visto como marginal, viciado ou delinquente.
Só podia jogar se fosse bingo com objetivo de angariar fundos para igrejas ou para ajudar alguém que necessitava de um tratamento médico ou para fazer a cotinha do caixão de um de cujos qualquer.
Joguei algumas vezes no bingo do arraial da Catedral.
Por vezes, um bingo no arraial do seu Passinho também era aceito, embora somente algumas vezes.
De lá pra cá, passei a ver o jogo como algo perigoso.
Algo que vicia.
Algo muito ruim.
Nunca gostei de apostar.
Hoje, já taludinho, como dizem os amigos, sou convidado a participar de alguns bolões para tentar a sorte na Mega-Sena.
Embora meio a contra gosto, pois ainda tenho na memória as palavras de meu pai, entro em alguns bolões, porém com uma dúvida cruel.
Se o jogo do bicho, caça-níquel e bingo viciam e por tal motivo são proscritos, como é que existe tanto jogo patrocinado oficialmente, sendo capitaneado pela Caixa Econômica Federal?
Tenho amigos que perderam todas as economias jogando bingo, quando eram autorizados.
Conheço amigos que sempre fazem uma fezinha nos caça-níqueis clandestinos existentes em Porto Velho.
Vejo todo dia banquetas de jogo do bicho pela cidade. Embora seja ilegal o jogo.
Qual a explicação que pode ser dada para mim – se é que existe uma explicação – de que os jogos clandestinos viciam e os jogos patrocinados pelo Governo Federal não viciam.
Tive em certa época, um pedreiro trabalhando em minha casa que toda quarta feira pedia um adiantamento para jogar na “loteca”. Se eu não tivesse dinheiro para adiantar a ele, parecia que o “homi” ficava louco, trabalhando emburrado e saindo mais cedo para ver se conseguia uns trocados para alimentar seu vício.
Perguntei certa vez desde quando ele jogava nas loterias da Caixa e se já tinha ganhado alguns trocados e tive a resposta que o referido coitado, jogava desde o lançamento e que nem um tostão ganhou.
Ainda brincou comigo, o Pedro, de que possuía um baú na sua casa, com todos os volantes das vezes que participou de jogos e que estava somente esperando que em Porto Velho tivesse uma fábrica de reciclar papel para vender e ganhar alguma coisa – me lembrou o causo de um velho bêbado que ficou rico vendendo as garrafas das pingas que tinha ingerido ao longo de sua vida.
Então, o que diferencia os jogos clandestinos – que viciam – dos jogos legais, feitos pela Caixa Econômica Federal – que não viciam – é sua legalidade?
Se for então o problema, vamos legalizar os demais e deixar com a idéia hipócrita que vemos nos dias de hoje em que periodicamente é estourada uma casa de jogos clandestinos ou uma central do jogo do bicho.