Meu irmão mais velho que eu,
o Bosco era um grande palhaço. Palhaço daqueles que não tem intervalo que nos
dias de hoje, poderia ser classificado com um pen drive de piadas.
Perdi meu irmão em 26 de
maio de 1980 para uma doença que hoje, já pode ser controlada e até mesmo
convivida com ela – a diabetes.
Em Rondônia, nos anos de
1980, tudo era difícil ao ponto de a insulina ter que vir de São Paulo, pois
aqui não tinha nas farmácias e poucos conheciam a danada da doença.
Para termos uma idéia, o
Bosco foi detido pela Polícia Federal da época, com seu estojo de insulina,
seringas e agulhas até que um médico, Doutor Custódio, fosse explicar que
aquilo era remédio e o liberar das garras “dos omi”.
De lá pra cá conheci alguns
Boscos. Alguns mais ou menos, no meu modo de avaliar.
Por intermédio de um grande
amigo que também se foi – Dean, que trabalhávamos juntos mais o Mário Luiz, na
então Secretaria de Administração e Finanças do Território Federal de Rondônia,
nos anos 1977 e seguintes eu e o Mário fomos serrar o almoço na casa do Dean e
conheci um menino, seu irmão, um rapazinho buchudo, feio, dentuço e... animado
chamado Bosco.
Pouca amizade fizemos na
infância. Apenas as brincadeiras na Praça Aluízio Ferreira e algumas
travessuras típicas de nossa idade. Crescemos cada um pro seu lado, até que já
com alguns cabelos brancos voltei a frequentar a turma do Caiari e reencontrei
o Bosquinho.
Batemos alguns papos e como
gosto de pagode, como também sou um ótimo tocador – assim dizia o Bosquinho,
fui me encostando, ajudando o grupo “Sem Moderassom”, que pra muitos também é
conhecido como os “Cansadinhos do Som” e sempre por perto, juntamente como meu
amigo Mourão, que carinhosamente chamo de “bebeu”; o Dimaci, que tenho
intimidade para chamá-lo de “melancia” e o Anselmo, meu ex-aluno que chamamos
de “pen drive”, pois com o violão na mão não para nem pra beber água.
Nos encontramos muitas
vezes, nas rodadas de pagode, nas confraternizações de fim de ano, no Boteco do
Calça, no Origance – quando ela ainda tomava todas e sempre fomos da “pá virada”.
Soube esses dias que meu
amigo de infância e companheiro de muitas festas estava doente. Mas... Doença? Pensei
eu, pode ser tratada.
Ledo engano. Acabei de saber
que meu amigo foi para os braços do Pai, foi ao encontro do Grande Arquiteto.
São Paulo, quando escreveu
aos Coríntios assim disse: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos
anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. Não é o caso de nosso amigo Bosquinho. Era um
cara que tinha amor em tudo que falava e agia. Era ponderado, era sábio para
ouvir e para falar.
Não me
lembro do Bosquinho tentando fazer, como eu faço levar a coisa no grito. Ele usava
argumentos com aquela sua voz suave.
São Paulo
falou ainda que “E ainda que tivesse o
dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse
amor, nada seria”.
Bosquinho não
tinha o dom da profecia, não conhecia todos os mistérios nem toda a ciência,
porém tinha muita fé e muito amor.
Era o amigo
que me cumprimentava com um abraço e um beijo – na buxexa, claro!
É esse
amigo Bosquinho que quero levar sempre no meu coração e sei que seus amigos
também estão pensando assim.
O Bosco
guerreiro, amigo, fraterno, inteligente, compreensivo, pai, marido, avô e
camarada.
É o cara
brincalhão e tocador de surdo, com sua voz rouca e sem graça que quero sempre
lembrar. É minha geração!
Questionamos
Deus toda vez que um amigo ou um parente se vai. Vi agora a pouco no “zapzap”
alguém falando que tanta gente ruim fica e os bons se vão.
Tenho uma
tese até certo porto esdrúxula, porém a meu ver correta. Quem está indo para os
braços do Altíssimo é que já cumpriu seu tempo aqui e aqueles que ainda estão
na terra falta algo a cumprir.
Quero
terminar meus escritos em homenagem ao amigo Bosquinho com parte do Salmo 23,
conhecido por muitos e também atribuído a São Paulo.
Ainda que eu ande pelo vale
da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo (...).
Hoje perco meu segundo irmão Bosco.
Vá em paz irmão
Bosco que Deus te receba como se recebe um amigo, para uma rodada de pagode.
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