Tem horas que, não tendo o
que fazer, passo a imaginar coisas possíveis de serem concretizadas, pois as
impossíveis estou deixando para mais tarde, quando estiver já de pijama e
criando galinhas.
Penso basicamente o que é
uma amizade. Amizade mesmo, não é coleguismo, nem apenas se juntar para um jogo
de futebol ou tomar umas cervejas no bar.
Em meados de 2009, fui
convidado pelo amigo Dimas, mais conhecido como Qualhada, para ir conhecer um
barzinho de um amigo dele – logo após termos sidos expulsos do bar do Pernambuco,
mais uma vez – e resolvemos conhecer outros ares, desculpem, outros bares e
fomos então até o bairro das Pedrinhas pela tomarmos umas cervejas geladas.
Chequei no endereço dito
pelo Qualhada e me deparei com um barzinho muito modesto, com apenas uma porta
de madeira, duas ou três mesas de plástico na pequena varanda e um cidadão
sentado em uma cadeira “de macarrão”, sem camisa e quando pedimos uma cerveja,
ele nem se levantou, mandou que pegássemos no freezer.
Achei muito estranho e fui
informado que aquele era “seu” Calça. E nas outras cervejas também tivemos que
ir buscar, pois o dito senhor não levantou da cadeira.
Gostei da cerveja gelada e
passei a frequentar o barzinho e aos poucos fui vendo a figura do dono do
boteco. Um velhinho com cara de turrão, barba por fazer, sem camisa, um chinelo
de dedos aos pés e de quando em vez, um sorriso maroto.
Passei a admirar o cidadão.
Quando eu chegava lá, ele sempre tinha umas “estórias’ para contar, fui
encontrando vários amigos, como Charuto, Caúla, Paulo Santana, Zequinha, Faz-tudo,
Rommel, Caixa, Emil, Constantino e outros mais.
Do boteco saia apenas
cerveja, porém muito gelada. Tira gostos, em hipótese alguma, a menos que
alguém levasse.
Resolvemos então comprar um
fogão, umas panelas e alguns pratos para podermos ter algo para beliscar, sem
ser o dono do boteco, claro.
Então, passei a ser, além de
frequentador assíduo do bar do Calça, o cozinheiro da turma e tendo sempre uma
platéia boa para comer, entre os que colaboravam e os que entravam de bicão.
Tava muito apertada a
varandinha e então resolvemos ampliar as instalações e construímos um “puxadinho”
para nos abrigar da chuva e mandei colocar luz no banheiro, pois à noite, já
com algumas cervejas alojadas no estômago, indo par a bexiga, ficava difícil
ver alguma coisa.
Era um bar eminentemente
masculino, mas alguns amigos e eu também resolvemos tornar o ambiente mais
agradável e resolvemos convidar as “patroas” para conhecer o ambiente e
descobrirem o motivo de tanto afeto e afago pelo local.
Mais um problema, só tinha
um sanitário e então pedi para o amigo Euzébio, companheiro de longos anos para
construir um banheiro feminino, ficando assim o barzinho mais charmoso e
elegante.
Todo o dia, pela manhã, eu passava
para um dedinho de prosa com nosso amigo José Ferreira de Abreu – desculpem,
ninguém sabe quem é – é o Calça. E tínhamos como prêmio pela presença, seu
sorriso largo, quase vazio, com apenas um dentinho.
Muitas vezes, eu deprimido
ou chateado com alguma coisa, recebia um afago e ouvia palavras ditas por um
sábio que amenizavam minha dor ou afagavam meu ego e dias atrás soube por sua
filha Sâmia que ele acordava de madrugada e falava em mim, com palavras sempre
de um pai para seu filho.
Muitas vezes, eu e o
Zequinha, ficávamos até altas horas tomando cerveja e ouvido os “causos” do
Iata e quando víamos seu Calça, dormindo em sua espreguiçadeira, o Zequinha,
muito matreiro, falava bem alto alguma coisa qualquer com o nome “Iata” junto e
então entre um bocejo e outro do nosso amigo, eu podia ir buscar outra cerveja
e o papo corria pelo menos, mais meia hora.
Como dizia Dona Lourdinha e
eu passava todo dia no bar do Calça, para bater o ponto.
Não sei como será agora sem
sua presença física. O “velho” José Ferreira de Abreu, popularmente conhecido
como “Calça frouxa” no dia 3 de maio, sábado pela parte da tarde nos deixou e
como falei logo após seu falecimento, foi chamado pelo Supremo Criador, para
contar seus causos pelas bandas do Céu.
Tive o grato prazer de estar
no rol de amigos de “Seu Calça” e o tratava como um pai e é a dor da perda de
um pai que estou sentindo agora.
Obrigado meu velho, obrigado
meu amigo e obrigado meu segundo pai.
Que Deus o tenha em um lugar
especial, lugar reservado para pessoas íntegras como você.
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