Entendo como muito nobre a doação de sangue.
Ao doar um pouco de seu sangue, o ser humano está contribuindo para que vidas sejam salvas.
Na década de 70, quando tinha 18 anos, servindo o Exército, fui compelido – como todos os soldados – a doar sangue em um dia qualquer.
Daí em diante gostei da coisa e passei a doar de forma espontânea, ainda mais que no exercito, a doação era considerada como um ato grandioso e no boletim diário, na 4ª parte – JUSTIÇA E DISCIPLINA, o soldado era citado como referência e homenageado.
Também servia para “corrigir” algumas traquinagens feitas na caserna.
Pois bem, eu doava sangue e continuei por um longo tempo.
Lembro que minha inscrição no “Banco de Sangue”, hoje Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Rondônia - Fhemeron era de número 98.
Imaginem como faz tempo.
Sempre doando quando alguém pedia ou quando estava no prazo até que no ano de 1995, no dia 26 de janeiro, nasceu minha filha Isis Amabile Ibiapina Pereira, linda que só o pai, prematura de sete meses.
Em razão de complicações do parto e pela idade “um pouco” avançada, sua mãe necessitou fazer duas curetagens seguidas, com espaço de mais ou menos 40 dias, até culminar em julho do mesmo ano, com uma histerectomia, que é uma operação cirúrgica da área ginecológica que consiste na retirada do útero. A histerectomia pode ser total, quando se retira o corpo e o colo do útero, ou subtotal, quando só o corpo é retirado. Às vezes esta cirurgia é acompanhada da retirada dos ovários e trompas (histgerectomia total com anexectomia bilateral ou histerectomia radical).
Em um domingo bem cedo, fui informado pelo grande amigo e excelente médico, Doutor Genival Queiroga Júnior, ou simplesmente Queiroga, que a paciente necessitava de receber sangue com urgência.
Como eu era doador voluntário, fui correndo – como diária minha mãe, com o pé batendo na bunda – até o Banco de Sangue e na qualidade de cidadão, solicitei quatro bolsas para dita transfusão.
Fui informado por uma pessoa que estava no plantão que para retirar o sangue, era necessário que eu levasse, ao menos, quatro doadores.
Falei da necessidade e da urgência do pedido e informei que eu era doador voluntário e firmei compromisso para que após a entrega do sangue no hospital que a paciente estava eu procuraria doadores, pois em um domingo, início do dia, seria difícil encontrar alguém.
Foi mantida a negativa.
Tentei ponderar por várias vezes que sempre havia doado sangue para outras pessoas e não seria justo, na hora que eu estava precisando do precioso sangue fosse negado a mim.
Não consegui convencer a pessoa.
Já desesperado encontrei um colega de infância, filho de família do bairro do Caiari que trabalhava lá e de forma humana disse que não era justo ser negado o sangue a mim.
Foi lá dentro, testou quatro bolsas de sangue e pessoa às minhas mãos.
Salvamos dona Lourdinha.
Agradeço ao colega – que aqui declino do nome, pois não sei como seria a tratamento dado a ele, pela rebeldia, hoje no seu ambiente de trabalho – que, sem sua compreensão não teria terminado com um final feliz.
Não estou aqui prestando um desserviço quanto à doação voluntária de sangue.
Longe de mim tal atitude.
O que quero que saibam é que uma pessoa que doava, digo doava sangue voluntariamente, deveria ter um tratamento diferenciado quando necessitasse do atendimento dentro de um nosocômio da rede pública.
Sabemos que a doação voluntária de sangue é um ato de humanidade e que existem prerrogativas para quem assim o faz.
Em concursos públicos existe a dispensa da taxa de inscrição como também é critério de desempate em muitos casos etc.
É pena que como eu, por tais desmandos, outros doadores perderam a vontade e o interesse em tão nobre gesto.